terça-feira

Ler para ser


"A leitura faz o Homem completo. A conversação torna-o ágil. E o escrever leva-o a ser preciso."
Fracis Bacon

"Um livro deve ser o machado que quebra o mar gelado em nós mesmos."
Franz Kafka

"Casa sem livro, corpo sem alma."
Cícero

"Um país faz-se com homens e livros"
Monteiro Lobato

Fonte

quarta-feira

Poesia e Criança

As crianças amam brincar com a fala,
descobrir sons, criar significados,
embalar-se
no ritmo até se tornarem
donas das palavras.

As crianças escutam, vêem, cheiram
e saboreiam as palavras cheias de
inventividades.
Elas adoram as palavras, por isso,
palavras e crianças se brincam...

A magia de jogar com as palavras
preenche a vida com risos,
gargalhadas,
descobertas e curiosidades
como se fosse uma lanterna mágica
tudo vem à baila um mundo único
singular de cada um.

A poesia vive em estado de ludicidade
nas bocas das crianças e as fascinam
desde os aspectos visuais e
auditivos do poema
até a função estética
purpurinando vidas para que
possamos puxar fios guardados
na memória onde mora o sonho,
a imaginação
e fantasia, a intuição,
o desejo e a emoção.

Enfim, a criança precisa do feitiço
das palavras. E porque negá-las?
Benditas sejam: Poesia e Criança.

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segunda-feira

SOMOS FEITOS DE HISTÓRIA


A Cia. Palavras Andarilhas, grupo independente de profissionais pesquisadores da oralidade e das narrativas, promove nos dias 23 e 24 de outubro de 2007 o evento literário SOMOS FEITOS DE HISTÒRIA, com a participação nacional dos escritores Giba Pedrosa/ SP, Almir Mota/ CE, além da participação especial do poeta popular Edvaldo Bronzeado/ PE e da atriz Maria Oliveira/ PE.
Contar histórias é a mais antiga e, paradoxalmente, a mais moderna forma de comunicação. A finalidade do evento é a de fortalecer o conceito da literatura oral como patrimônio cultural imaterial que revela costumes, idéias, etnografias no resgate da força histórica das comunidades e a emergência dessa oralidade na sala de aula na formação de leitores.

PROGRAMA

Dia 23.11 – (sexta) Abertura - 19 h
“ A procura da Palavra”, performance poética com textos de diversos autores, Maria Oliveira/ PE
“Oralidade” – Poesia popular: declamando o seu cordel e contando causos. Edvaldo Bronzeado/ PE.
“Conto um Conto de ponto a ponto”. Noite de contação de histórias com a participação de Giba Pedrosa/ SP, Almir Mota,/ CE, Edvaldo Bronzeado/ PE, entre outros. Aberto ao Público.
Dia 24.11 – (sábado) 9 as 17h
“Tecendo Histórias – uma vivência com o contador de histórias” . Oficina ministrada por Giba Pedrosa/ SP. Vagas: 30 participantes.

quarta-feira

Cantiga

O cravo brigou com a rosa
Debaixo de uma sacada.
O cravo saiu ferido
E a rosa, despedaçada...

Parlendas, cantigas de roda e brincadeiras

por Lenice Gomes

É necessário compreender o processo de alfabetização a partir de usos e valores da leitura e da escrita.
A leitura e a escrita possuem uma existência social. Desse modo, seus usos e funções não podem ser desconsiderados pela escola, pois alguém só aprende a ler e escrever porque entende o para quê e o porquê faz isso. Para que o indivíduo (aluno) descubra as funções da língua escrita – registrar, transmitir, obter conhecimentos, comunicar idéias, fatos, sentimentos, divertir – é preciso criar situações em que a escrita seja usada funcionalmente, com finalidades que se assemelhem aos usos que lhe são atribuídos no dia-a-dia de uma sociedade de uma sociedade letrada. Assim, mais do que ler, é necessário leiturizar, ou seja, compreender o processo de alfabetização a partir de usos e valores da leitura e da escrita. Propõe-se, entretanto, deixar a criança fascinada pela leitura e pela escrita, a fim de que como leitor e como escritor, possa escrever, com maior plenitude seus direitos e deveres de cidadão. O próprio D. W. Winnicott, evoca que é no brincar, e talvez apenas no brincar que a criança ou o adulto frui a liberdade de criação. No brincar, a criança expressa suas emoções e necessidades, utilizando sua sensibilidade e intelecto. A brincadeira é a forma própria de a criança dar sentido ao mundo. Ela é mediadora da relação criança/mundo. Através da brincadeira, a criança poderá penetrar em textos, cabendo, dessa froma, ao professor experimentar as mais variadas formas de linguagem. As cantigas de roda, as parlendas e as brincadeiras apresentam-se como recurso para a leitura “lúdica” (os jogos) e para a introdução da criança no mundo da leitura. As parlendas contêm, de certa forma, um enunciado lúdico pedagógico pela sua froma, ritmo, desenvolvendo o aspecto psicossocial da criança, pois a sua linguagem é simples e atraente. Em contato com as parlendas, a criança poderá dar os primeiros passos para a comunicação verbal. A convivência com as parlendas, as cantigas de roda e as brincadeiras, remete a criança a uma relação com a linguagem lúdica (os jogos) e poética. Vê-se dessa forma que, ao trabalhar “as parlendas” em sala de aula, o professor coloca a criança em contato com o saber popular, esse popular que muitas vezes é imprescindível no avanço da Literatura Infantil, pois, muitos dos clássicos da Literatura Infantil “nasceram no meio popular (ou em meio culto e depois se popularizaram em adaptações)” Nelly Novaes Coelho; p. 20, 1982. Pode-se dizer que o primeiro contato que a criança tem com a poesia ocorre no berço, através das cantigas de ninar e prosseguir com as cantigas de roda e quadrinhas populares. Os jogos de palavras, as nomatopéias, as repetições e as rimas contidas nessas cantigas nas parlendas agradam muito às crianças. Através da repetição, a criança memoriza quadrinhas e canções inteiras, muitas vezes sem entender-lhes o significado, pois o que importa nesse momento é a sonoridade, a cadência e o ritmo dessas composições (parlendas). Fica evidente que parlendas, cantigas de roda podem ter um papel importante no processo de alfabetização, não só pela sua familiaridade com o discurso da criança mas também porque permite à criança conquista de linguagem. Estudos realizados por Emília Ferreiro. “A criança não vivencia o processo de alfabetização como uma sucessão de conquistas, mas como uma experiência de conflitos”. Logo, não se pode pensar a alfabetização sem considerar a criança sujeito cognoscente – alguém que constrói, interpreta e dá significados ao que lê. Se a leitura do signo lingüístico, implica a leitura do mundo que esse signo nomeia, o processo de alfabetização passa a ser entendida como um “tomar posse” do mundo através da linguagem escrita. Restabelecendo o elo entre ler e escrever, a aprendizagem torna-se centro do processo sujeito de sua escrita e do seu dizer. Fica evidente que desse modo, é importante perceber a importância do papel que a Literatura pode desempenhar para os seres em formação. Daí a necessidade da Literatura Infantil junto ao processo de alfabetização, pois a mesma poderá alegrar, devertir ou emocionar o espírito de pequenos leitores ouvintes, levando-os de maneira lúdica, fácil, a perceberem e a interrogarem a si mesmos e ao mundo que os rodeia, orientando seus interesses, suas aspirações, sua necessidade de auto-afirmação ou de segurança, ao lhes propor objetivo, idéias ou formas possíveis (ou desejáveis) de participação social. Ao se estudar a história das culturas e o modo pelo qual elas foram sendo transmitidas de geração para geração, verifica-se que, na transmissão de seus valores de bases, a literatura foi o seu principal veículo literatura oral ou literatura escrita foram as principais formas pelas quais recebeu-se a herança da tradição que cabe transformar, tal qual foi feito anteriormente, com os valores herdados e, por sua vez, renovados. É preciso que seja instrumento de fundamental valor para uma nova concepção de alfabetização, a qual leve em consideração o referencial trazido pela criança, através das canções, quadrinhas, etc. Portanto, faz-se necessário um passeio pelo universo infantil (mundo das fadas), oportunizando à criança vez e voz, a fim de que ela viva a leiturização na sala de aula.

Lenice Gomes é graduada em História, Especialista em Literatura Infanto-Juvenil, Pesquisadora da Cultura Popular. É Contadora de Histórias Infantis, autora de livros infantis.

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terça-feira

A poesia: do popular ao infantil











por Francisco Mesquita

Não são poucas as relações entre a poesia e as manifestações populares; também são várias as suas relações com a infância.

A poesia, desde suas origens, tem se pautado sob duas orientações principais: uma de reutilização do folclore e das formas populares; e outra constituída de experimentalismos e tradições. Obviamente, entre ambas, como já chamara atenção Glória Pondé: “uma gama de estilos se descortina” (1990, p.118).

Todavia, para nossos propósitos imediatos, iremos nos deter nas relações existentes entre o popular e o infantil nas orientações poéticas da contemporaneidade.

Já afirmamos que “criança gosta de poesia, sim”. E enfatizamos que a inciação poética geralmente se dá pelo viés das formas populares de poesia: principiando pelas canções de ninar, seguindo-se pelos acalantos e parlendas, passando pelas adivinhas e trava-línguas, e chegando às cantigas de roda e aos poemas de cordel, por exemplo. Todas essas são formas que exploram os sons, o ritmo, a expressividade, os jogos, a brincadeira com as palavras, enfim. Maria da Glória Bordini (1991) também destaca a relevância desses tipos de textos para a formação da sensibilidade poética nas crianças.

Muitos poetas consagrados reconheceram a importância da literatura oral e popular para a educação poética infantil e se apropriaram das diversas fontes e formas populares, trabalhando seus múltiplos sentidos. É o caso de Manuel Bandeira, Henriqueta Lisboa, Mário Quintana, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, José Paulo Paes, entre muitos.

Até mesmo o experimentalismo que marca a produção desses poetas traz em germe a vivência das manifestações folclóricas e a mediação da poesia popular. Portanto, não é só a poética infantil que tem se apropriado dos artefatos do folclore e da cultura do povo; os poetas modernistas e concretistas, por exemplo, também o fizeram com maestria.

Contudo, para trilhar o caminho do popular ao infantil na poesia contemporânea, elegemos como leitura-percurso a poética de Lenice Gomes, que despontou no Recife, na última década do século XX, e apresenta entre suas preocupações estéticas a de manter acesas as chamas da poesia popular para as crianças.

Historiadora e especialista em Literatura Infanto-juvenil, Lenice Gomes há muito tem se dedicado a estudar e propagar as nossas raízes poéticas, recriando algumas de suas principais manifestações – particularmente as parlendas e as cantigas –, em todas as suas variações e encantos.


A poetisa pernambucana publicou seu primeiro livro (Viva eu, viva tu – Viva o rabo do tatu) em 1993, pela editora Bagaço – que também se apresenta com o objetivo de valorizar a cultura popular, aliançando-a ao cotidiano. De lá para cá, publicou mais três livros: Rá-ré-ri-ró... rua (1994), Amores e flores (1995) e Lua, luar! (1997), todos pela mesma editora. Todavia, ela possui ainda alguns livros no prelo e outros inéditos.


Já a partir do título, seu primeiro livro denuncia as possibilidades que descortina. Partindo da musicalidade expressa pelas parlendas e jogos sonoros, Lenice Gome cria e recria poemas lírico-lúdicos que não deixam perder a con(v)ivência com a oralidade e surpresas do folclore. Tais características permeiam, por exemplo, poemas como “Brincadeira”:

Dança, chuva, dança...
depressa... depressa...
dança, dança alegremente
taque – teque – toque...

Chove chuva chuvisquinho
Minha calça tem furinho
Chove chuva chuvarada
Minha calça está furada

No meio da praça,
alguém desafia a nudez do dia
de cá pra lá
de lá pra cá
espalha perfume na brincadeira
cheia de idéias soltas no ar...

As manifestações folclóricas que surgem no meio do(s) poema(s) não se tornam apenas pretexto para a poematização da autora; antes, integram o texto, estabelecem os elos entre o popular e o infantil, via poesia.

A poesia popular, folclórica, desenvolvida por Lenice Gomes (e diversos outros poetas), possui uma função iniciatória à grande poesia (ou à poesia de “gente grande”), pois sua simplicidade e o ludismo de que se reveste favorecem a apreensão pelos leitores-infantis. Aqui e acolá, porém, a simplicidade cede espaço para uma pronúncia mais difícil, travada, uma dicção acelerada, como em “Pinto que pia”:

E o pinto pelado
molhado...
De orvalho?
Nada.
É só um pinto
que piiiiiaaaa.

O pinto pia,
A pipa pinga.
Pinga a pipa,
O pinto pia.
Pinto pia,
Pipa pinga.
Quanto mais
O pinto pia
Mais a pipa pinga.

Pinto
Pia
Pipa
Pinga
Quem quiser
que pinte o pinto!

A poesia mescla, assim, os textos da oralidade, do popular, com outros enigmas. Esses, mais trabalhados, mais pedagógicos, exploram e ampliam o universo mágico que perpassa nossa cultura.


Em Rá-ré-ri-ró... rua, Lenice Gomes retoma os jogos de palavras, que constituem a essência das palavras. Veríssimo de Melo distingue as parlendas da seguinte forma: “brincos, mnemonias e parlendas propriamente ditas” (1981, p.76), estabelecendo uma hierarquia, das mais fáceis às mais difíceis; dos mimos e agrados – passando pelos ensinamentos – até os divertimentos e críticas.

E a nossa poetisa faz largo uso de todos esses tipos, dando-lhes um tratamento muito peculiar. As parlendas passam a compor os poemas de maneira sutil, como se fossem seu próprio refrão. É o que vemos, por exemplo, em “Anúncio urgente”:

Procura-se com urgência
Rei com flor vermelha na lapela
Capitão carregando no bolso
mais de mil amores
Soldado caminhando pelas
ruas oferecendo ilusão
Ladrão brincando de esconde
esconde com o coração.
Quando encontrá-los
venham correndo, correndo
depressa, depressa
pra moça bonita
se alegrar
numa canção.
Rei
Capitão
Soldado
Ladrão
Moça
Bonita
Do meu
Coração.

Assim vive a moça bonita
bordada de sonhos azuis.

Cá com meus botões
A quem ela dará seu coração?

Rei
Capitão
Soldado
Ladrão.


Além das parlendas, há também cantigas e adivinhas associadas a historinhas e experimentalismos diversos.

Já no livro Amores e flores, a poetisa associa tais poéticas populares à narrativa. Num moderno “conto de fadas”, Lenice Gomes deixa transparecer passagens e ficagens da infância (dela mesma e de todos nós), com toda sua musicalidade e a força de seu imaginário. As cantigas dão o tom ritmado e plural à história contada, numa estrutura popular e melódica, resgatando o vigor característico das brincadeiras infantis. Por isso entre as melodias escolhidas pela autora está a conhecidíssima:

Apareceu a Margarida!
Olê, olê, olá...
Apareceu a Margarida!
Olé...

Essas características, que vão do popular ao infantil, são novamente enfatizadas no livro Lua, luar!. Encontramo-las, por exemplo, no poema que empresa o título ao livro (“Lua, luar!”), que (se) pergunta: “Lua luar, / quantos peixes tem no mar?”, buscando a realização de uma viagem pela fantasia;ou então no poema “Sorveteiro”:

Uni duni tê
Salamê mingüê
Meu sorvete colore
Uni duni tê

Mangaba, jabuticaba,
Goiaba,
Acerola, sirigüela, graviola
Uni duni tê.

Tilim, tilim, tilim...
tocando o sino
pelas ruas da cidade
o sorveteiro anuncia
um mundo doce e leve.

O simpático sorveteiro
entre frutos e cores
oferece todos os sabores:
abacaxi, caqui, sapoti,
maracujá, cajá, araçá...

Para alegrar
nosso coração
vamos saborear
um sorvetão?
Uni duni tê.


Lenice Gomes abarca, assim, o universo mágico e lúdico das manifestações populares, abraçando o imaginário infantil – que é perpassado por essa mesma poesia folclórica.

A poetisa, nascida em Jupi e radicada em Olinda, cultiva uma poética já denominada de uma “brincadeira com as palavras” e faz valer toda a sabedoria popular, através de suas faces poéticas. Lenice explora o caráter instrutivo desse tipo de poemas, cadenciando sua forma encantatória e (re)visitando a história de vida dos seus leitores.

A poética de Lenice Gomes revela que a poesia, em suas diversas formas, mantém estreitas relações com as manifestações folclóricas e populares e com o imaginário das crianças. Os poemas e as histórias da escritora fundem o popular e o infantil, caracterizando uma linguagem viva e vibrante, que ultrapassa limites e fronteiras – de idade, de região, de leitura etc.

Do popular ao infantil, e vice-versa. Esse é o percurso que os textos de Lenice Gomes perfazem e ultrapassam, numa dinâmica de linguagem, que somente a poesia pode alimentar/gerar. É ler para crer; e se deliciar.
Francisco Mesquita, professor, poeta e crítico literário, é mestrando em
Teoria da Literatura, na Universidade Federal de Pernambuco.

* Francisco Mesquita, professor, poeta e crítico literário

Publicado em: http://www.construirnoticias.com.br/

Brincando Adivinhas

Terceiro lugar na categoria Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil (por Elisabeth Teixeira) do Prêmio Jabuti 2004. A autora recolhe retalhos da tradição oral, das brincadeiras de rua, explora os limites entre prosa e poesia e traz Pai Francisco e Flor do Dia, dois "brincantes" de circo popular, para fazer graça com as palavras, criando adivinhas poéticas. As crianças aplaudem, riem e terminam a festa em uma grande ciranda, que envolve a cultura popular e a literatura.
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